Aluno sofrendo antes e depois do recesso escolar

Tá acabando, Aluno…

Há um ditado no Exército que diz que só a tora revigora. Em outras palavras: somente um descanso satisfatório pode propiciar de fato uma recuperação adequada da disposição de um indivíduo. Na teoria, as ‘férias’ também funcionam assim: só elas revigoram. Mas, na prática. Confere ou não, Aluno? Ninguém consegue descansar daquela vida ingrata de internato em quinze dias. O suficiente mesmo seria pra base de uns seis meses, pra começar a conversa. Mas, não…
Na prática, as férias escolares são insuficientes.
Aluno sofrendo antes e depois do recesso escolar

“Instrutor, não tô aguentando mais…”

Antes de partir para as merecidas, abençoadas e muito bem-vindas ‘férias’, o mundo do aluno durante a qualificação se resume basicamente às agradáveis instalações da EsSA (com dois ‘ésses’ porque sou muito antigo) e à pequena cidade de Três Corações-MG. São cinco dias, às vezes mais, sendo exigido, ensinado, cobrado, corrigido, testado, forjado e então, por fim, só no final, finalmente, enfim, formado, nas mais diversas atividades conduzidas diuturnamente dentro e fora das instalações da Escola. Mais cerca de dois dias, às vezes menos, visitando brevemente o lado de fora dos muros, entre meia dúzia de lugares nas mesmas ruas e quarteirões da modesta cidade tricordiana. Isso sem contar as várias semanas bastante produtivas que passamos virados pelas madrugadas aproveitando ao máximo o dia. Com direito a todo aquele conforto que só mesmo o terreno pode nos proporcionar, do Atalaia ao CIGMAL, das bases de instrução dos cursos às cidades próximas da região e, por que não, pelo Brasil afora. E que fazem com que a rotina na Escola pareça a mais doce e agradável, e seu armário e sua cama o mais aconchegante lar do mundo. Reza a lenda que o que é feito em quatro anos de atividades de campo em outras escolas militares, concluímos com êxito em apenas um. É o ferro com ferro puro, na carne. O Aluno da Escola de Sargentos das Armas se cura enquanto anda, a mochila mal sai das costas. Não é embuste. É esse nosso legado, jamais nos esqueçamos. Motivo de orgulho muitas vezes velado que caracteriza fortemente nossa orgulhosa formação. Se isso não é uma grande referência do que é ser forjado no fogo bem mais forte, do que é ser um Sargento, o que vai ser? Como dizia um instrutor, o aluno da ESA sai em condições de enfrentar qualquer parada. O próprio calendário do período de qualificação da EsSA é sugado, por conta da enorme quantidade de atividades desenvolvidas pelo Corpo de Alunos (ou melhor, com a carcaça dos alunos). Não há espaço para passeios fretados, mal mal para cursos ou estágios, ainda com prejuízo de algumas atividades. Tampouco há espaço para inventar fantasias e peruações. Ainda que continuem insistindo em ideias absurdas em nome de uma ‘valorização’ fictícia. Max Wolf usava fuzil.
“Libera o praça!”
Aluno pensando na aconchegante vida no alojamento

“Acordar 04h30 pra fazer faxina nem é tão ruim assim…”

Enfim. Todo esse regime faz com que o aluno seja pressurizado quase que vinte quatro horas por dia, sete dias por semana, dez meses do ano. Ininterruptamente. Ou seje, sem parar, senhor infante. Quando o aluno é ‘liberado’, a pressão dentro dele também é. O desgraçado explode em fazer merda viver como se fosse a última oportunidade da sua vida. O resultado é o mesmo de quando algum animal num sentido não pejorativo para o animal foge de seu enclausuramento: ele quer aproveitar sua momentânea liberdade da maneira mais selvagem possível. Para amenizar esse efeito catastrófico, no meio desse pandemônio, existem alguns licenciamentos. São períodos rápidos e curtos (bem rápidos e bem curtos), porém extremamente necessários para desopilar a mente. Somente para quem pode desfrutar deles, claro, porque nem todos vão para casa. Por morarem muito longe, por estarem punidos, de serviço (argh!) ou sem dinheiro, alguns Alunos amargam esses dias entre o rancho, o alojamento, Three Hearts and saca, pra quem é de saca, e church pra quem é de church. Para esses Alunos, principalmente, e para todos os outros também, existe um período muito especial: o recesso escolar! Aliás, não existem férias. O nome desse período em que somos autorizados a sair momentaneamente da bolha da Escola é o dito recesso. Que é chamado assim para que o aluno não entenda que as coisas estão fáceis. Jamais estarão. E, como dissemos, é insuficiente do mesmo jeito. Mas, é o que é. O recesso tem cerca de 15 dias nos quais ainda estaremos ligados à escola de sofrimento das almas de uma maneira ou de outra. Ainda teremos que treinar, não deveremos nos quebrar (isso é importante) e, em hipótese alguma, devemos nos matar (isso é IPC!). Esses são os critérios mínimos. Mas, vale lembrar que também não é o melhor momento para produzir descendentes.
Não se matar é importante pra caralho, Aluno (é sério)
No fim, sempre cumpriremos nossa sina de estarmos presos num looping temporal, o qual sempre termina, ou começa, na EsSA. É a Síndrome do Licenciamento. Contudo, ainda assim as férias o recesso escolar é esperado com grande expectativa. E talvez esse seja o maior engano que um aluno pode cometer. Pois, ele não é uma cápsula que faz o tempo parar quando entramos. O tempo, na verdade, parece correr injustamente mais rápido. Eu, por exemplo, planejava resolver toda minha vida, sair com todos os meus amigos, jogar todos os jogos possíveis, treinar como um atleta de alta desempenho, comer como um louco, assistir duas dezenas de filmes, dormir mais de oito horas por dia, escrever ensandecidamente para o blog e ler uma biblioteca nos intervalos entre as atividades. E descansar também. Resultado: resolvi umas pendências mais urgentes das quais dependiam minha vida, saí com quase ninguém nutrindo minha fama de enrolado, não joguei quase nada, fiz duas corridinhas sem vergonhas, comi e dormir mais de quinze horas por dia, vi uma merda de filme ruim e escrevi dois textos quase morrendo para o blog.

O desespero do Aluno na volta para Escola. EsSA, desde sempre.

A verdade é que a vontade de fazer tudo não é compatível com a vontade de fazer nada. Muito menos com outros fatores como tempo, disponibilidade de terceiros, a falta de um clone, de dinheiro e de sorte para que nossa volta seja adiada em mais duas semanas. É foda. Como eu disse, as férias não são suficientemente grandes quanto precisaríamos que elas fossem. Não dá para resolver toda sua vida de uma semana para outra. O recesso é para se fazer o oposto da nossa rotina na Escola: ou seje, nada! Ou quase nada. Pois ele acaba, e rápido, passa voando! E a cada vez que penso que daqui a pouco terei que voltar, já começo a querer entrar em desespero. Só para controle, faltam as últimas provas, um Projeto Interdisciplinar, uma SIEsp (aaaaarrgh!), uns três ou quatro campos, um manda brasa, um Manobrão e cerca de 10 dias fora. A conta não bate, irmão! Isso para mim. Porque, para o Basicante, falta tudo! Para o concurseiro, então, nem se fale… Só por esses motivos, as férias, ou melhor, o recesso, o licenciamento, o fim de semana, são insuficientes. Por isso, se comprometam em descansar e em desopilar a mente com o que realmente faça sentido. Saúde, família, relacionamento, amigos e hobbies, são os principais. Não se apresse. Tenha calma, serenidade. Nada para a inexorável marcha do tempo. Vai acabar, acredite. Nada. Para. A inexorável. Marcha. Do. Tempo. Leu direito essa porra agora? Então, confia. Porém, por hora, para desespero geral dos Alunos — e, porque não, dos instrutores — o recesso está acabando… E com ele, sua formação. Já pensou nisso? Pois é, tá acabando, Aluno