A origem de tudo
A ideia deste blog nasceu há cerca de oito anos. Na época, eu estudava para a Escola de Sargentos das Armas (ESA) – quando ainda tinham dois ‘esses’, porque sou muito antigo (tsc tsc tsc), e acompanhava um modesto blog sobre a vida num curso de formação.
Era o Serei Oficial, um dos poucos que contava a rotina na Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx). Abordando boa parte da rotina militar longe da enorme glamorização tão comum nos dias de hoje. Era como um combustível para estudar. Pois, ao ler, podia imaginar o que viveria no futuro. Eu esperava por dias e meses a publicação de novos textos. Na bucha, até hoje.
Só que, nessas indas e vindas que a vida de um jovem estudante dá, conheci um moleque num cursinho. Ele estudava para a Academia da Força Aérea (AFA). Era um maluco fora da curva com relação a papiro. Se a AFA não desse certo, seu plano B seria a EsPCEx, depois a ESA. Acabamos nos tornando amigos.
Segundo ele, como oficial, as oportunidades na carreira seriam bem maiores. Segundo eu mesmo, não. Como Oficial, eu seria formado para comandar. Em geral, funções de comando acabam ficando cada vez mais voltadas para trabalhos administrativos e de logística. Com isso, o contato com a tropa vai sendo cada vez mais indireto e distante.
Por outro lado, como Sargento, eu faria as coisas que realmente me interessavam. Seria um combatente mais experiente e capacitado. Ao longo de boa parte da carreira (para não dizer nela inteira), eu estaria em contato com a tropa. Era bem simples: minha vocação era ser Sargento, não Oficial. Eu queria vivenciar a ponta da linha, exercer uma liderança militar genuína.
Porém, como nem tudo acontece como esperamos, numa conversa com meu amigo, mudei de plano. Passamos a estudar juntos para a EsPCEx. Daí, deixei em segundo plano o concurso para a ESA e a ideia de ser Sargento.
Depois de algumas reprovações, o estresse era grande. A prova era um peso quase insuportável e a angústia era constante. Escrever, inspirado pelo Serei Oficial, funcionava como uma válvula de escape para aquele momento confuso e frustrante da vida.
Colocar a ideia de um blog em prática me daria ânimo para ir mais além. Então, no meu último ano de papiro desesperado, decidi finalmente construir meu projeto. Ainda faltavam alguns meses para a prova. Escrevi, escrevi, escrevi. Contava basicamente sobre a vida de concurseiro e algumas outras coisas sobre estudos. Escrevi mais, editei, reescrevi e reeditei.
Entre tentativas e erros, comecei pelo Blogger, passei pelo Tumblr e terminei no WordPress. Escrevi mais um pouco e trabalhei nisso por seis meses. Aprendi algumas coisas sobre HTML, hospedagem, SEO, e experimentei várias plataformas. Gastei muitos neurônios e passei muita raiva. Continuo aprendendo muito, e passando raiva como sempre. Aproveitei todos esses conhecimentos aqui, na versão mais atual do DCNFC, que vocês veem agora.
No fim das contas, esgotei minhas tentativas para a EsPCEx até o limite de idade, enquanto prestava paralelamente o concurso para a prova da ESA. Nela passei com certa facilidade. Apesar de ter ‘perdido’ tempo por mudar meu plano inicial, esse período me possibilitou entrar mais maduro (e velho!) na ‘Fábrica de elos’.
Entrar na ESA foi um dos melhores acontecimentos da minha vida. Não que ser um aluno do Curso de Formação e Graduação de Sargentos (CFGS hoje, CFS na minha época) seja uma coisa boa. É uma vida de cão! Mas, por diversos motivos é gratificante demais também, pois há muita glória nas dificuldades que passamos aqui dentro. Ensinamentos também. E, em ser Sargento, há muitas mais.
Como aluno da ESA, aprendi coisas inestimáveis que não teria aprendido em qualquer outro lugar do Brasil ou do Exército Brasileiro. Só ali, naquele ano, dividindo todos aqueles momentos com meus camaradas de básico e nossos instrutores, eu teria. Isso confirmou o que eu já sabia desde o início, desde criança, mas que chegou da maneira e no momento certo que eu precisava: eu era Sargento.
Resumindo, a história dos acontecimentos que me trouxeram aqui é essa.
Porém, contudo, todavia… você pode se perguntar: “mas qual a ideia disso aqui, afinal?”
Bom, falei tudo isso para dizer que as histórias que conto nesse pequeno pedaço da grande teia global de conexões, é com aquele sentimento de quando eu não queria nada além de entrar o Exército Brasileiro. De servir. É para dizer que tudo aquilo que fazemos neste blog é com um cuidado gigantesco pelo trajetória profissional que escolhemos seguir. É também com vibração e entusiasmo, como nossos chefes e comandantes mais antigos tanto falam, e que tanto nos estressa, mas que, sabemos, resume esse sentimento.
Neste ano, com a ideia mais amadurecida, e um pouco mais de experiência na carcaça, finalmente consegui juntar todos os ingredientes necessários para publicar e manter o blog.
O objetivo do De Como Não Fui Cadete é contar as histórias, os sanhaços e os aprendizados da vida militar na perspectiva de um Terceiro Sargento do Exército Brasileiro. É também dar espaço e voz aos nossos Cabos e Soldados e, claro, nossos comandantes, os Oficiais. Além disso, incentivar o debate equilibrado de assuntos de interesse da nossa profissão, trocar conhecimentos e experiências da vida militar e civil. Sempre buscando uma perspectiva fora da comum, muitas vezes simplória, extrapolando os muros dos quartéis e adquirindo novos formas de ver e entender o que está a nossa volta.
Espero que se sintam à vontade para comentar, participar, criticar, sugerir e divulgar nosso espaço.
Fé na Missão.
A origem do nome
A título de curiosidade, a origem do nome ‘De Como Não Fui Cadete’ é literária. Num dos livros mais famosos de um dos maiores escritores brasileiros há um capítulo dedicado ao que ele não fez num cargo que não ocupou. No capítulo 139, do livro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, intitulado “De como não fui ministro d’Estado”, não há se quer uma palavra, apenas parágrafos compostos por reticências.
Ao contrário dele, porém, temos muito a dizer.